Nota de Repúdio: avatares não substituem intérpretes de Libras no V Conamdracon
Contra o uso de avatar digital em substituição a intérpretes humanos de Libras no V Congresso Nacional Multidisciplinar de Doenças Raras e Anomalias Congênitas
A Associação Catarinense dos Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais (Acatils) vem a público manifestar seu veemente repúdio à utilização de avatar digital no lugar de intérpretes humanos de Libras durante a transmissão ao vivo do V Congresso Nacional Multidisciplinar de Doenças Raras e Anomalias Congênitas, realizado entre os dias 21 e 23 de maio de 2025, no YouTube, diretamente de João Pessoa, Paraíba.
Essa prática é inaceitável e fere o direito linguístico da comunidade surda brasileira, além de comprometer a acessibilidade plena à informação e à comunicação, conforme previsto na legislação vigente. A Libras é uma língua natural, visual e espacial, reconhecida pela Lei Federal nº 10.436/2002, que demanda mediação humana qualificada para garantir a clareza, a expressividade e o respeito aos aspectos culturais envolvidos na interação com o público surdo.
Acatils defende firmemente a valorização, o reconhecimento e o respeito à atuação dos profissionais tradutores e intérpretes de Libras, cuja presença vai além da tradução mecânica de conteúdos — envolve ética, domínio linguístico, sensibilidade cultural e responsabilidade comunicacional.
Reconhecemos que as tecnologias digitais e os sistemas de inteligência artificial vêm avançando em diversas áreas. No entanto, no que diz respeito à interpretação em Libras, a tecnologia ainda não alcançou um padrão minimamente aceitável de qualidade, precisão e humanização. Os avatares atualmente disponíveis não são capazes de representar adequadamente as complexidades linguísticas da Libras, como expressões faciais gramaticais, variações regionais, contexto de uso e ritmo conversacional.
A substituição de profissionais humanos por avatares digitais:
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Viola a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ratificada no Brasil com status constitucional;
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Contraria a Lei Brasileira de Inclusão (Lei Federal nº 13.146/2015), que garante o direito à comunicação acessível e efetiva;
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Desrespeita o Decreto Presidencial nº 5.626/2005, que regulamenta o uso da Libras e assegura a presença de profissionais qualificados.
Por isso, a Acatils exige:
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Retratação pública imediata dos organizadores do Congresso;
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Comprometimento com a contratação de intérpretes humanos de Libras em eventos futuros;
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Adoção de políticas reais de inclusão e acessibilidade, com diálogo com as entidades representativas da área.
Libras é uma língua viva.
É presença. É expressão. É corpo. É identidade.
Avatares não interpretam Libras. Avatares não escutam o silêncio. Avatares não têm alma.
Incluir não é automatizar — é humanizar.
Florianópolis (SC), 23 de maio de 2025.
Diretoria
Associação Catarinense dos Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais